*Adaptação do post "Blue Cloud 2011- Os créditos pelo destacado 3=6", publicado no blog Carruagem sem Cavalo
Motor de dois tempos fabricado em 1905 - Fonte: Wikipedia |
Os motores de dois tempos são motores de combustão interna a pistão que têm seu ciclo térmico efetivado em dois tempos mecânicos, onde tempo mecânico corresponde ao deslocamento completo de avanço ou recuo do pistão. O ciclo de dois tempos pode estar associado tanto aos motores de explosão como aos do tipo diesel. Também é importante destacar que na história existem dois tipos de motores de dois tempos a explosão, os sem compressão, anteriores aos motores de quatro tempos, e os com compressão, posteriores aos motores do ciclo Otto.
Os primeiros motores de combustão interna foram os motores de dois tempos sem compressão. Entre os inventores pioneiros que desenvolveram motores desse tipo estão a dupla de italianos Nicolò Barsanti e Felice Matteucci , o francês Etienne Lenoir e o alemão Nikolas Otto. Em termos de concepção mecânica, o motor desenvolvido pela dupla de italianos se assemelha muito ao de Nikolas Otto. Já o motor de Lenoir era construtivamente muito similar à máquina a vapor de duplo efeito.
Motor de dois tempos sem compressão de Barsanti e Matteucci - Fonte: Notthingham |
Motor de dois tempos sem compressão de Otto e Langen - Fonte notthingam |
Todos, entretanto, utilizavam ciclos que obedeciam a seguinte ordem:
- No primeiro tempo, movimento de recuo do pistão, se sucediam duas fases; aspiração e explosão/expansão.
- No segundo tempo, movimento de avanço do pistão, ocorria uma única fase, a de descarga ou escape.
Motor de dois tempos sem compressão de Etienne Lenoir - Fonte: Libraly |
Devido a baixa eficiência que apresentavam, os motores de dois tempos sem compressão, também chamados de motores atmosféricos, foram rapidamente suplantados com o surgimento do motor de quatro tempos de Otto, muito mais eficiente.
Já os motores de dois tempos com compressão, tipo que ainda sobrevive em algumas aplicações, são posteriores aos de quatro e nasceram da vontade de seus inventores
de produzirem motores eficientes a ponto de serem competitivos em relação ao motor de quatro tempos de Otto, que por força da patente concedida ao seu inventor, em 1876, por vinte e cinco anos, não poderia ser copiado.
Vale registrar que, diferente do que foi prescrito, a patente de Otto só foi mantida por dez anos. No ano de 1886 foi revogada devido ao reconhecimento do trabalho anterior de Alphonse Beau de Rochas, que havia definido o ciclo teórico para o motor a quatro tempos já em 1862, ou seja bem antes de Otto construir seu motor.
Vale registrar que, diferente do que foi prescrito, a patente de Otto só foi mantida por dez anos. No ano de 1886 foi revogada devido ao reconhecimento do trabalho anterior de Alphonse Beau de Rochas, que havia definido o ciclo teórico para o motor a quatro tempos já em 1862, ou seja bem antes de Otto construir seu motor.
Com o grande sucesso comercial obtido pelo motor Otto, desenvolver um ciclo alternativo era algo muito atrativo, mas extremamente difícil. Pois, a receita do ciclo utilizado por Otto parece algo mais que intuitivo ou
natural. Um motor alternativo onde se enche de mistura pelo recuo do
pistão com uma válvula de admissão aberta, comprime a mistura ao
avançar fechando as válvulas; inflama a mistura no ponto morto superior
do pistão e aproveita o recuo do pistão com as válvulas fechadas para
transformar a expansão dos gases em tempo motor; Novo movimento de
avanço do pistão? Agora é só abrir a válvula de escape para se livrar
dos gases queimados e recomeçar o ciclo.
Realmente, motor alternativo a combustão interna com compressão e ciclo de quatro
tempos parecem ter sido feito um para outro. Não foi por acaso que essa
configuração foi a primeira a surgir em obediência ao ciclo de Beau de
Rocha e se tornar o modelo predominante desde o início até nossos tempos.
Mudar a receita, casando o ciclo das quatros fases de Beau de Rocha - admissão, compressão, explosão/expansão e escape - com dois tempos
mecânicos (um de avanço e um de recuo do pistão) não parecia nada fácil.
A história mostrou que realmente não era. Mas, com as restrições
impostas pela patente de Otto o desafio estava lançado e, como
sabemos, em resposta ao surgimento de grandes desafios sempre aparecem
homens dispostos a vencê-los. Neste caso, pelo menos dois teriam grande
êxito. Um deles ainda no período em que vigorou a patente de Otto. O segundo já depois da expiração. Ambos se tornaram concorrentes de peso do motor de quatro tempos, graças a algumas vantagens competitivas evidenciadas em aplicações específicas. Entre as vantagens dos motores quatro tempos estão o menor número de peças móveis, melhor relação peso/potência, custo de produção menor e maior potência específica.
Motor de dois tempos com compressão de Dugald Clerck |
O primeiro motor de dois tempos com compressão foi desenvolvido pelo Escocês Dugald Clerk, tendo sido apresentado em 1878. Clerk desenvolveu um motor com compressão no qual as quatro fases do ciclo de Beau de Rocha eram realizadas em apenas dois tempos. O "pulo do gato" de Clerk foi injetar a mistura ar/gasolina sob pressão no cilindro, ao invés desta ser simplesmente aspirada. Para isso ele dotou seu motor de um cilindro adicional que funcionava como bomba, encarregada de injetar a mistura na câmara. As fases de enchimento e descarga foram fundidas em uma só, conhecida como lavagem. A entrada da mistura era feita por uma válvula direcional no cabeçote. A descarga feita por janelas na base inferior do cilindro. Apesar do cilindro extra, esse motor se apresentava com uma construção mais simples que o de quatro tempos devido a ausência de mecanismos de acionamento de válvulas e seus agregados. Apesar de ter perdido terreno para um tipo posterior de motor de dois tempos, a configuração do motor de Clerk é a base dos motores de dois tempos a diesel atuais, ainda bastante utilizados na área naval. Nesses motores, o cilindro extra foi substituído, em geral por um soprador de lóbulos rotativo.
Primeira versão do motor de dois tempos com compressão de Joseph Day - Fonte: Model Engine News |
Versão aperfeiçoada do motor de dois tempos com compressão de Joseph Day - Fonte: Model Engine |
Versão seguindo o esquema de Joseph Day dos motores para automóveis fabricado pela DKW até a década de 1960 Fonte: Autoentusiastas |
No motor de Day, a
injeção da mistura no cilindro era feita por janelas semelhantes a de
escape, situadas na mesma altura. Isso fazia com que em determinados
regimes houvesse muita perda de mistura. Como efeito, esse motor era menos eficiente, consumia e poluía mais que o motor
de Clerk, o que ofuscava suas vantagens competitivas de maior simplicidade construtiva e leveza. Mas, o surgimento de um novo arranjo nos fluxos internos de circulação de gases proposto pelo engenheiro Adolf Schnürle diminuiu muito as perdas de mistura no motor de Day, melhorando substancialmente seu consumo. A partir daí o motor de Day passou a predominar entre os tipos de motores dois tempos a explosão. Já nos motores a diesel de dois tempos, a configuração utilizada sempre foi a desenvolvida por Clerk.
Motor de dois tempos conforme o esquema de Clark fabricado pela DKW para seus automóveis na década de 1930 |
Nas duas últimas décadas, a exigência de maior eficiência e o progressivo rigor das leis anti poluição, surgidas da preocupação com a preservação ambiental, forçaram a descontinuidade dos motores de dois tempos em muitas aplicações, devido a maior dificuldade em atender os restritos limites de emissão impostos, comparativamente aos motores de quatro tempos.
Na área automobilística, há alguns anos, já com a imposição dos
restritos limites de emissão, a Orbital Engines desenvolveu um motor de
três cilindros a gasolina com injeção eletrônica que prometia baixos índices de
emissão e, rendimento e consumo melhores que os os de quatro tempos.
Ford e BMW chegaram a instalá-lo experimentalmente em seus carros, mas
não chegaram a produção comercial.
O jornalista Bob Sharp chegou a avaliar, na Inglaterra, um Fiesta com
esse motor para a revista Quatro Rodas, edição de janeiro de 1993, e
repassou boas impressões em seu texto. Outro dia ele lembrou essa
matéria no Auto Entusiastas em comentário a um post do Juvenal sinalizando que "O único problema dos dois-tempos que os grandes da indústria pesquisaram foi a emissão de óxidos de nitrogênio (NOx)".
Entretanto, ambas as configurações de motores de dois tempos - a de Day e a de
Clerk - ainda sobrevivem. A de Clerk em mot
ores diesel, que continuam a potenciar grandes navios. E a de Day, agora com injeção eletrônica, enfrenta em pé de igualdade o motor de quatro tempos no meio náutico. Também, recentemente, a espanhola Ossa lançou uma moto trail dois tempos, injetada, que promete ser bastante competitiva.
Enfim uma jornada que promete não acabar tão cedo.
ores diesel, que continuam a potenciar grandes navios. E a de Day, agora com injeção eletrônica, enfrenta em pé de igualdade o motor de quatro tempos no meio náutico. Também, recentemente, a espanhola Ossa lançou uma moto trail dois tempos, injetada, que promete ser bastante competitiva.
Enfim uma jornada que promete não acabar tão cedo.
FORD FIESTA COM MOTOR ORBITAL 2 TEMPOS - BOLA NA TRAVE
Avaliação do Fiesta 2T - na revista Quatro Rodas Digital em http://quatrorodas.abril.com.br/acervodigital/
Avaliação do Fiesta 2T - na revista Quatro Rodas Digital em http://quatrorodas.abril.com.br/acervodigital/
VÍDEOS SOBRE O ASSUNTO DISPONÍVEIS NO YOUTUBE
Motor de dois tempos sem compressão de Otto e Langen construído em 1867
Ilustração do funcionamento de um motor dois tempos obedecendo o esquema de Joseph Day
Ilustração de um motor a diesel de dois tempos obedecendo o esquema de Dugald Clerk
O motor de Clerk, ao menos numa primeira olhada, chega a me remeter bem vagamente ao ciclo Scuderi.
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